Sempre achei o mês de junho o mais particular do ano para o nordestino. É o momento das tradicionais festas religiosas, da exaltação da cultura regional, das comidas típicas, da música que nos remete a Luiz Gonzaga e a Jackson do Pandeiro, e também das chuvas banharem a terra ávida por água.
Nessa época, a alta do turismo local é pautada pela proporção em que o forró toma conta das homenagens aos santos católicos - Antônio, Pedro e João.
Santo Antônio, o casamenteiro, é festejado em procissões nas quais uma multidão se arrasta nas ruas, fazendo e pagando promessas em troca de amarrar os seus pares. Sua celebração ser em 13 de junho configura uma eficiente estratégia de marketing da Igreja, com o evento logo após o Dia dos Namorados - uma espécie de venda casada, com o perdão do trocadilho.
São Pedro, conhecido por ser uma espécie de porteiro do céu, recebe os louros de ser também o padroeiro das chuvas. Enquanto o sertão clama por água, quem frequenta o arrastapé em meio à molhação põe a culpa no coitado por atrapalhar a festa, destinando-lhe amor e ódio.
Se Antônio e Pedro tem funções bem definidas no imaginário popular, me pergunto o que tem de especial esse tal de João para ser o favorito da opinião pública, com direito a festa suntuosa organizada por políticos que excedem o orçamento em shows superfaturados. Segundo fontes confiáveis - leia-se Wikipedia - ele foi um importante profeta, primo de Jesus e responsável pelo seu batismo. Esse é até um currículo razoável, mas que não justifica tanta idolatria.
Após muito refletir, veio uma iluminação. Pode-se até ser feliz com a solteirisse e com o banho de chuva, mas nunca sem dançar forró. Sendo assim, resta concluir que, para justificar a boa fama, João só pode ser o sanfoneiro. Então nada mais justo que entoar o coro: Viva São João! Viva!