terça-feira, 30 de maio de 2023

Incomplet...

Amanheceu de um jeito sempre igual ao de outros dias. Despertador tocou, levantei atrasado, preparei o café da manhã. Tomei banho reclamando do lorenzetti que não esquentava direito, me perguntando por que não tinha escolhido um apartamento com aquecimento a gás - não quis lembrar que o aluguel seria mais caro. Fui correndo pegar o metrô, lotado, enquanto me perdia na multidão que andava veloz, mas que seguia presa a telas e fones de ouvido. Tudo acontecia sempre igual, quase em loop contínuo, num quê de dia da marmota. Até o caos interno, que de certa forma rimava silenciosamente com o caos barulhento do mundo. O pensamento fervilhava, a inquietude estava lá, sem muita explicação de como chegou e por que permaneceu. As questões eram conhecidas, o que querer da vida, o que a vida quer de mim, como lidar com o que não depende de nós mesmos. Parecia que isso se repetia num desorganizar ritmado, que eu não conseguia compreender. Pensei que sempre tentamos definir o que sentimos, dar nome às coisas, criar um raciocínio que ligue os pontos. Ainda assim, falhamos repetidas vezes, deixando lacunas e respostas incompletas. Acho que talvez nunca encontre uma solução definitiva, já que como Alice, não sou mais o mesmo que era hoje pela manhã. Seguirei questionando, buscando graça na incerteza, até que o amanhã se torne um dia diferente de hoje. Nessa hora, já serei outro de mim, com novas inquietudes, incompleto e exatamente humano por conta disso.