segunda-feira, 9 de julho de 2018

Por enquanto

Na história da humanidade, há pessoas que gravam para sempre as páginas do livro da vida. Suas ações e trajetórias ficam registradas e passam a fazer parte do imaginário popular, velando a lembrança que se tem delas. Por outro lado, a maioria de quem já passou por aqui não teve a oportunidade de constar nos autos.
Quando meu avô faleceu, me disseram que ele viveria para sempre na nossa memória. Claro que foi uma daquelas frases-chavão que usamos para confortar quem sofre, mas me fez refletir sobre outras coisas. Em mais de 100 anos de vida, ele vivenciou muita coisa e participou da história de muita gente. Nesse ínterim, as marcou com suas características, com seus valores e seus defeitos. 
Tive a oportunidade de conviver bastante com ele e usufruir do seu talento de contador de histórias. Pude perceber um pouco como era o mundo através de seus olhos e das suas recordações, e até construir sua figura histórica para a minha família, que nem sempre se confundia com sua figura pessoal que eu conhecia. 
Um dos eventos mais relevantes para o desenvolver de minha família é a saída do interior para vender farinha no mercado em Aracaju. Meu avô me contou como meu tio mais velho, seu braço direito, acabou levando-o a esta decisão que foi crucial para todos chegarem onde estão. Esta ação que se tornou memória é prova cabal do impacto de uma pequena coisa na vida dos outros, podendo virar estória ou até história.
Se por um lado sua imagem se manterá vívida na minha lembrança e na de quem conviveu com ele, é pequena a chance de as futuras gerações saberem quem ele foi e qual o seu significado para seus contemporâneos. 
Aliás, quantos de nós sabemos algo relevante sobre nossos antepassados, como eles eram, do que gostavam e o que conquistaram sendo pessoas comuns? Esse conhecimento prosaico foi se perdendo ao longo do tempo e hoje é ínfimo.
No final das contas, feliz daquele que pode ser lembrado positivamente pelo que viveu e realizou, mesmo com prazo de validade. Até porque, como diz a canção, o pra sempre, sempre acaba.

3 comentários:

  1. Bom texto, Caio.
    Muitas historias se perdendo entre nossa gente comum que dao nome aos filhos e nao às praças

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  2. Lindo lindo lindo lindo <3

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