terça-feira, 17 de junho de 2014

A vida como um filme

Num momento de reflexão, deparei-me com o seguinte questionamento: de que forma é possível ver a vida através de uma perspectiva cinematográfica?
Ao relembrar o passado, pode-se, com algum esforço, fazer recortes das situações vividas e, como num filme, escolher a fotografia e a trilha sonora, pois o roteiro já foi escrito, os atores determinados e os papéis destes, interpretados. Dessa forma, dar uma conotação cinematográfica ao passado nada mais é que deixar a emoção preencher as recordações e dar origem a uma memória afetiva do que se viveu.
Por outro lado, ao imaginar o futuro, obtêm-se uma idealização sobre o que pode ou não acontecer. O futuro ideal funciona como um esboço de um filme, onde você é o produtor, diretor, roteirista e até mesmo ator, tendo controle total sobre as ações. Nesta idealização, escolhe-se a dedo a fotografia, os melhores planos, o enquadramento e a trilha sonora, pois nada ainda aconteceu de fato.
O presente, diferentemente, é a filmagem em tempo real, sem tempo para ensaios, cortes ou edições, onde não há controle pleno dos acontecimentos. Estes são vividos visceralmente, sem o poder afetivo da memória nem a fluidez onírica de uma projeção futura. É neste tempo presente que há a possibilidade de pôr em prática uma idealização anterior e transformar em boa recordação o que se vive. Momento crucial de escolhas, ele funciona como o fiel da balança entre passado e futuro, com a capacidade de determinar o rumo da vida.
Apesar de dividida em três tempos, a vida é um segmento único, um continuum. Ela não funciona como uma colagem desordenada de pedaços para compor um todo. Na montagem da película que é a vida, cada instante é fundamental, pois possui a capacidade de influenciar o que virá a seguir. E é nessa sequência da realidade cotidiana que reside o maior desafio do cineasta-protagonista: sem a mais bela fotografia e uma trilha sonora ao fundo, realizar sua obra-prima.

sexta-feira, 6 de junho de 2014

O Captain! my Captain!

Não sei se este é um sentimento comum a muitas pessoas, mas sempre tive o sonho de ter um professor semelhante ao Sr. Keating, personagem de Robin Williams no filme Sociedade dos Poetas Mortos.
A idéia de ter um professor apaixonado pelo ensino, extremamente didático e motivador, que não se detém a um conteúdo limitado e instiga o conhecimento a partir da autocrítica e da busca por diferentes visões de mundo é, para mim, das mais agradáveis. Pena que este tipo de professor represente o antônimo do sistema convencional de ensino, hegemônico no Brasil.
O sistema de ensino no Brasil segue uma metodologia arcaica onde o fazer pensar é preterido pelo decorar. Desde a educação básica – pouco valorizada – ao ensino superior, o aluno brasileiro é estimulado quase que somente a memorizar o que será cobrado em provas e a valorizar a aprovação nas mesmas, sem que seja dado verdadeiro destaque ao conteúdo e à visão crítica de mundo, o que idealmente é função da escola.
Ao longo da minha vida estudantil, percebi que as políticas públicas só corroboraram com esta situação. Desde a era pré-Lula – onde a direita política era majoritária no Brasil – até o governo Dilma, o ensino e a formação crítica do cidadão não foram valorizados. Se antes nem a quantidade de instituições de ensino era ressaltada, agora é somente ela que tem destaque. O incremento no número de universidades e de escolas técnicas que aconteceu nos últimos 12 anos é exaustivamente exaltado pelo governo, ao passo que uma educação de qualidade e uma subsequente análise sobre a formação crítica e intelectual dos alunos nunca existiu.
Infelizmente, não vejo nenhuma perspectiva de melhora na educação do brasileiro nem em curto nem em médio prazo. Imaginei que uma política esquerdista de governo seria capaz de trazer as atenções à educação pública, tornando-a de qualidade. Enganei-me. Também se engana quem acha que uma eventual vitória da direita conservadora brasileira nas eleições de outubro irá mudar a conjuntura atual. Os dois lados da velha polarização partidário-ideológica brasileira já detiveram o poder e não foram capazes de reverter a precária situação educacional.
Espero que os Srs. Keating que existem por aí, ainda que poucos, consigam fazer um trabalho de formiguinha e desenvolver pensamento crítico na geração em crescimento. Talvez assim possamos, a duras penas, ver essa geração se tornar a nova opção política que venha a promover e a valorizar qualidade no ensino brasileiro em larga escala.