terça-feira, 17 de junho de 2014

A vida como um filme

Num momento de reflexão, deparei-me com o seguinte questionamento: de que forma é possível ver a vida através de uma perspectiva cinematográfica?
Ao relembrar o passado, pode-se, com algum esforço, fazer recortes das situações vividas e, como num filme, escolher a fotografia e a trilha sonora, pois o roteiro já foi escrito, os atores determinados e os papéis destes, interpretados. Dessa forma, dar uma conotação cinematográfica ao passado nada mais é que deixar a emoção preencher as recordações e dar origem a uma memória afetiva do que se viveu.
Por outro lado, ao imaginar o futuro, obtêm-se uma idealização sobre o que pode ou não acontecer. O futuro ideal funciona como um esboço de um filme, onde você é o produtor, diretor, roteirista e até mesmo ator, tendo controle total sobre as ações. Nesta idealização, escolhe-se a dedo a fotografia, os melhores planos, o enquadramento e a trilha sonora, pois nada ainda aconteceu de fato.
O presente, diferentemente, é a filmagem em tempo real, sem tempo para ensaios, cortes ou edições, onde não há controle pleno dos acontecimentos. Estes são vividos visceralmente, sem o poder afetivo da memória nem a fluidez onírica de uma projeção futura. É neste tempo presente que há a possibilidade de pôr em prática uma idealização anterior e transformar em boa recordação o que se vive. Momento crucial de escolhas, ele funciona como o fiel da balança entre passado e futuro, com a capacidade de determinar o rumo da vida.
Apesar de dividida em três tempos, a vida é um segmento único, um continuum. Ela não funciona como uma colagem desordenada de pedaços para compor um todo. Na montagem da película que é a vida, cada instante é fundamental, pois possui a capacidade de influenciar o que virá a seguir. E é nessa sequência da realidade cotidiana que reside o maior desafio do cineasta-protagonista: sem a mais bela fotografia e uma trilha sonora ao fundo, realizar sua obra-prima.

Um comentário:

  1. A-do-rei esse texto! Tinha feito um comentário gigante, mas o Google apagou tudo. Então, fico com o mais importante mesmo: texto lindo! :)

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