quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Crítica - Garota Exemplar (Gone Girl, 2014)

Garota Exemplar - tradução livre para Gone Girl - é o mais novo filme de David Fincher que chega aos cinemas neste outubro. Seguindo a inteligente linha de suspense policial já abordada em Se7en e em Zodíaco, Garota Exemplar não fica atrás quanto a prender a atenção do espectador.
Instigante desde o primeiro plano, o longa aborda o desaparecimento de Amy Dunne (Rosamund Pike) no dia de seu quinto aniversário de casamento com Nick (Ben Affleck). Logo após ter ciência do desaparecimento de sua esposa, Nick aciona a polícia, que, ao investigar o ocorrido, enxerga Nick como principal suspeito. A partir deste ponto, a narrativa desenvolve-se mostrando os esforços de Nick para provar sua inocência - auxiliado por sua irmã Margo - enquanto os indícios encontrados não corroboram sua versão da história.
Como de costume, David Fincher mostra-se um diretor extremamente competente, que dá ênfase ao cuidado estético e visual do filme. Através da alternância entre cortes rápidos e sequências longas, closes e planos abertos, a direção e montagem do filme são eficientes em contagiar o espectador com uma atmosfera de tensão e a produzir reviravoltas narrativas.
O roteiro e sua decupagem são consistentes ao criticarem, em diferentes níveis, a valorização das aparências na sociedade. No plano pessoal, a artificialidade é evidenciada pelo fato de o relacionamento de Nick e Amy se basear em uma projeção ideal do que cada um gostaria que fosse. No plano social, as críticas são observadas através de Amy - que representa ser um espelho da personagem literária criada por seus pais - e da atuação sensacionalista da mídia, que consegue audiência ao criar estereótipos e fazer juízo de valor destes, sem se preocupar com as consequências.
A linguagem cinematográfica expressa através do figurino e do design de produção é um dos pontos altos do filme. Em diversas ocasiões, são apresentadas formas geométricas retangulares tanto no cenário (nas janelas, nos móveis, na sala da delegacia) quanto no figurino (na estampa xadrez das roupas), trazendo à tona uma simbologia de aprisionamento. Nos momentos em que um personagem encontra-se em contexto desfavorável, há a repetição de tais formas. Além disso, a paleta de tons opacos que colore o interior da casa onde mora o casal protagonista passa a ideia de artificialidade de sua vida a dois, contrapondo-se ao jogo de cores vivas que é utilizado para compor o ambiente pessoal e acolhedor da casa de Margo.
Já rico em requisitos técnicos necessários para se fazer um grande filme, Garota Exemplar torna-se ainda mais atrativo para o espectador, ao trazer Ben Affleck e Rosamund Pike em atuações convincentes, compondo seus personagens como figuras psicologicamente complexas. É por esse conjunto de qualidades que, sem sombra de dúvidas, deve-se considerar Garota Exemplar um filme completo e um dos melhores de 2014.

3 comentários:

  1. Tem autores e diretores que sempre assisto os filmes quando posso, David Fincher é um deles. Ando meio por fora do cinema atual, esse ia passar batido para mim.
    Agora me diga, você assistiu quantas vezes para perceber esse negocio da geometria e do clima da cena?

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    1. Só vi uma vez mesmo. Achei o filme tão bom, que até gostaria de ver de novo. Infelizmente, o tempo tá curto.
      Você comenta com o perfil Unknown. Pode se identificar? Abraço

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  2. Muito boa a crítica! Não tinha pensado nessa questão da geometria, mas está muito bem apontado. Você prestou atenção em quando Amy começa a escrever com caneta vermelha no diário?
    Abraço!

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