terça-feira, 23 de dezembro de 2014

Piloto-automático

Hoje em dia, todos estão sempre muito ocupados. Vivem correndo contra o tempo, como se estivessem em débito com algo extremamente importante a ser feito e concentrados no depois. O ritmo acelerado da vida contemporânea deixa as pessoas numa rotação tão alta, que pouco se dão conta que não conhecem umas às outras.
Percebo isso ao analisar a superficialidade das relações humanas. Quando não restritas às redes sociais, as conversas basicamente se resumem à banalidade cotidiana -com pérolas de como o dia está quente, como o trânsito está irritante, como foi absurdo não anularem aquele gol impedido no jogo da última quarta-feira, por exemplo- ou ao chato e repetitivo papo de trabalho. É como se todos estivessem ligados em piloto-automático, não se aprofundando em nada do que se conversa, já que se tem outras prioridades.
Reflitamos. Você chega no seu ambiente de trabalho -ou de estudo- e se depara com as mesmas caras dia após dia. Quantas dessas pessoas você conhece a fundo? Quais os gostos de cada uma? Quais as suas visões de mundo e as suas pretensões de vida? Provavelmente, as respostas serão poucas, proporcionais às conversas que se teve.
Paradoxalmente, numa sociedade tão interconectada pelas redes sociais, as pessoas estão cada vez mais distantes, ainda que o feed do Facebook diga o contrário. Se a tecnologia e a globalização encurtaram as distâncias do mundo e aproximaram a coletividade, a correria automatizada do cotidiano afastou os indivíduos. Nesse ínterim, o ato de compartilhar deixou de ser algo real, isolando-se como instrumento de viralização na internet.
Seria interessante uma discussão sobre isso, um papo de bar, um cafezinho, ou algo do tipo. Se alguém topar, pode me mandar uma mensagem pelo Whatsapp. Quando puder, lerei. Pena que agora não posso conversar, estou atrasado e tenho que organizar as coisas da semana que vem. Fui!

2 comentários:

  1. "Se a tecnologia e a globalização encurtaram as distâncias do mundo e aproximaram a coletividade, a correria automatizada do cotidiano afastou os indivíduos."

    Esse trecho é muito significativo. Eu, cada vez mais, sinto exatamente isso. A correria do cotidiano atrapalha a vida que eu queria ter, com mais tranquilidade, mais tempo para conversar (de verdade) com os amigos, mais tempo para conhecer as pessoas.

    Às vezes, pergunto-me se essa correria toda vale a pena ou se eu vou me arrepender um dia de ter deixado a minha vida entrar em um caos louco apenas para ter um "grande futuro".

    O pior é que, por mais que eu use a internet e suas redes sociais, mesmo as discussões mais interessantes perdem sua complexidade aqui. É infinitamente melhor sentar a uma mesa de bar com os amigos ou na churrasqueira de um prédio. A conversa é real, tem olho no olho, gagueira, mudança de opinião. A conversa da internet é calculada em seus mínimos detalhes, não há espaço para improviso.

    Enfim... belo texto, mais uma vez. Deixou-me pensando em várias coisas.

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  2. Sempre voltamos a esse assunto de nos faltar de tempo para fazer aquilo com que realmente nos importamos, não é? Pelo menos o tempo que gostaríamos de dispor efetivamente para isso. Me questiono sobre isso da mesma forma que você o faz.

    A internet dá a possibilidade de ampliar o número de participantes numa discussão, o que é muito interessante. Pena que, como você bem pontuou, nunca atingirá o envolvimento que uma conversa real com os amigos permite. A espontaneidade fica comprometida, já que se pode escrever e reescrever cada posicionamento antes de publicá-lo.

    Uma vez que a distância física muitas vezes nos restringe ao contato virtual, vamos aproveitar as ferramentas que estão disponíveis para conversamos. O bom é que sempre sobrará assunto para os diálogos reais. A questão é ampliarmos as oportunidades para que eles aconteçam com mais frequência.

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